sábado, 9 de abril de 2011

Lembranças.

Logo que entrei no restaurante, mesmo de costas para mim, ele me chamou a atenção. Sentei próxima à mesa onde estavam ele e suas amigas (só amigas, espero) sentadas de frente para ele, e fiz um esforço enorme para ir me servir, pois seria patético ficar ali parada olhando para as costas dele, com as garotas me encarando, sozinha naquela mesa incrivelmente grande.
Passei pela mesa deles, que estava entre mim e a comida, sem ceder ao impuso de olhar para trás e ver seu rosto. Mas não pude me conter ao voltar para a mesa. Vi seus olhos me encarando e, supresa, desviei o olhar, tentando disfarçar o encantamento que nascia dentro de mim. Sua pele, seu nariz, sua boca, o contorno de seus olhos, tudo, refletia nas paredes do meu cérebro como um objeto posto entre dois espelhos planos paralelos, formando infinitas imagens idênticas.
Sentei-me de costas para ele, a fim de evitar a mesma situação do início, e revi em minha mente todos os detalhes que pude roubar de seu rosto naqueles dois segundos em que consegui manter o olhar. Só uma coisa me assombrava: a cor de seus olhos. Não conseguia me lembrar. Seriam claros? Bom, olhos claros combinariam perfeitamente com aquele rosto divino. Então eram verdes? Azuis? Seriam lentes? Não, não havia nada de falso naquele olhar. Mas ainda não lembrava a cor exata.
Deveria ser um garoto fofo. Já era lindo. Quem sabe pudesse preencher algumas lacunas em mim.
Terminei meu almoço antes mesmo que qualquer um na mesa dele fizesse a mínima menção de levantar, embora estivessem no meio da refeição quando cheguei ao restaurante. Surpreendi-me quando, ao ver a moça retirando a minha bandeja da mesa, ele pediu às meninas para que eles fossem embora, ficando logo atrás de mim na fila do caixa. Um esboço de um sorriso.
Virei-me para pegar um chocolate sobre o balcão, simples pretexto para olhar para trás novamente sem levantar suspeitas, e encotrei seus olhos finalmente, sorrindo para mim. Mas o que vi doeu no fundo do meu coração. Enxerguei porque ele me atraiu, mesmo de costas.
Foram os olhos que me chamaram, inconscientemente, estava destinada a ver aquela cor de novo. Aqueles olhos, ora azuis, ora verdes, que sempre foram um mistério pra mim. O tom exato de olhos que pertenciam a alguém que eu reconheceria em qualquer lugar, mesmo sem conhecer. Mesmo nunca tendo ouvido sua voz.
Dei as costas a ele, inconsciente da expressão em meu rosto naquele momento, a dor se remexia dentro do me peito. Paguei e sai, sem olhar para trás.